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QUANDO O INFERNO É UM SENTIMENTO, ATIVADO PELO PENSAMENTO

  • Foto do escritor: Edith Spiess
    Edith Spiess
  • 15 de ago. de 2018
  • 5 min de leitura

Quando a mente está quieta, tudo é Ser. Quando a mente se move, o mundo emerge. Portanto, esteja quieto, desfaça-se de tudo e seja Livre.

Nos meus diálogos sobre o dharma, surgem muitas perguntas sobre os sentimentos: “É possível permanecer aberto aos sentimentos do momento vivendo numa metrópole? Não é necessário criar uma barreira de proteção contra as ameaças externas?”.

Ao que geralmente respondo: “Quem e o que precisa de proteção? E qual é o custo de se proteger?”.

Manter uma barreira externa é muito caro, em relação aos benefícios que poderia eventualmente trazer. A barreira pode servir de escudo contra uma realidade difícil, ruas é também uma pesada armadura, que dificulta os movimentos. É melhor adotar a atitude de uma criança frente às experiências diretas da vida. Não se trata de infantilidade, ou seja, de agir de maneira imatura ou inexperiente, mas de viver como uma criança totalmente envolvida e risonha num instante, vulnerável e triste no outro, sem precisar se proteger dessas experiências.

Segundo estudos científicos, tendemos a acreditar que os eventos negativos produzem emoções mais fortes do que realmente são. Por isso, é importante fazer uma clara distinção entre as emoções diretas e as que são produto da atividade mental. Coisa que nem sempre é fácil.

Há sete anos, fiquei abalado quando terminei um relacionamento breve, porém intenso, com uma moça que chamarei de Tracy. Havíamos feito muitas promessas que eu levara a sério. Assim, me senti traído, raivoso e triste. Seis meses mais tarde, ainda estava inconsolável. Não conseguia parar de pensar nela. Se ela superasse seus medos e mudasse de idéia! Eu deveria ter feito isto ou aquilo! Eu passava o tempo todo elaborando estratégias na minha cabeça para reconquistá-la. Criava fantasias sobre o que o nosso relacionamento poderia ter sido, caso não fosse rompido.

Quando fui ao meu primeiro diálogo sobre o dharma, vivia uma insana agonia, torturado por minhas emoções. Escutei atentamente a minha mestra, Catherine Ingram, falar sobre a liberdade de estar plenamente em cada momento. Levantei a mão.

E as emoções? - perguntei, imaginando que ela fosse apresentar um sistema para negar as emoções.

As emoções são importantes e devemos acolhê-las sempre que surgirem - respondeu. - Mas é preciso ter certeza de que são parte de uma experiência direta e não de uma história recorrente.

Minha ficha caiu. Eu achava que tinha um problema com Tracy: o que ela dissera e fizera, o quanto me entristecera com suas palavras e ações. Mas a verdade é que eu tinha um problema comigo: estava criando o meu próprio inferno. O luto causado pelo fim do relacionamento acabara fazia muito tempo. O que ainda permanecia era uma história sobre Tracy: a mulher bonita, inteligente e divertida que tinha ido embora.

Muitas vezes, os nossos humores é que são determinados pelos pensamentos, não o contrário, e a mente pode utilizar qualquer coisa - um incidente no trabalho, os latidos do cachorro do vizinho ou a falta de dinheiro - para estragar o momento.

Decidi fazer uma experiência: contar quantas vezes pensava em Tracy. Comprei um aparelho daqueles utilizados pela tripulação dos aviões para a contagem dos passageiros e fui clicando. Uma hora mais tarde, tinha contabilizado 127: um a cada 30 segundos! O ritmo não diminuiu durante o resto do dia e a soma final chegou aos milhares.

Durante mais alguns dias, observei esses pensamentos, enquanto apareciam sem serem chamados para o palco da minha consciência. Não acreditei neles, não me identifiquei com eles e não participei do drama que estavam encenando. Apenas assistia e clicava. Pelo simples fato de permanecer nessa posição de observador, ganhei uma medida de objetividade sobre a situação. Convido você a experimentar este método. É muito eficaz para levar-nos à posição de testemunha.

Os pensamentos eram fortes, persistentes e desagradáveis e me puxavam para baixo, induzindo uma espécie de sono. Clique após clique, porém, fui despertando para o momento presente. Funcionou porque, como Catherine Ingram dissera, “se tiver que escolher a liberdade dez mil vezes por dia, irá sentir o gosto da liberdade dez mil vezes”.

Convencido da realidade da ligação entre minha mente e minhas emoções, fui um passo além. Meu inferno estava na mente e criava sentimentos de depressão, vazio e perda. Isso roubava minha liberdade, minha alegria, meu sentido de diversão. Em resumo, eu (meu pequeno ego) roubava minha própria vida, milhares de vezes por dia.

No dia seguinte, em vez de simplesmente observar os pensamentos ou imagens, eu decidi tratá-los com indulgência. Eu queria seguir cada um deles, e minha energia parecia esgotar-se, enquanto eu mergulhava no sonho do que foi e do que poderia ter sido. Então eu olhei minhas emoções, represadas na depressão em que vivi nos últimos seis meses. A dinâmica era clara: meu pensamento (a história de Tracy) era a origem de minhas emoções, não o contrário.

Depois que confirmei a conexão entre minha mente e minhas emoções eu continuei observando os pensamentos que surgiam, mas a cada vez fazia a opção de reportar minha atenção ao presente. Dirigindo suavemente minha atenção para as tarefas que fazia a cada momento - dirigir o carro, preparar o jantar, lavar a roupa, eu conseguia entrever a liberdade, nem que fosse por um segundo, durante o qual me livrava do meu pesadelo.

O aqui e agora é como um barco salva-vidas para alguém que está se afogando.

Aos poucos, lidei com essa nova consciência, passando cada vez mais tempo no presente. Não levou muito para que me livrasse da infelicidade da minha história sobre Tracy. Foi a minha primeira e mais profunda percepção do vigor e da intensidade do agora.

Ficou claro para mim que a "história da Tracy" era semelhante à morte - literalmente me alijava da vida preciosa. As emoções não eram reais; eram os ossos calcinados do pensamento que eu roia dia após dia. Só o momento presente era a vida. Escrevi as seguintes equações:

HISTÓRIA = MORTE AGORA = VIDA

Todas as nossas histórias, sejam quais forem (sobre relacionamentos, trabalho, dinheiro ou morte), ofuscam a nossa liberdade. Isto acontece em qualquer ponto do nosso caminho espiritual. Não importa se você é um mestre ou está ouvindo estes conceitos pela primeira vez: a mente pode utilizar qualquer coisa, até mesmo sua espiritualidade, para roubar a sua vida, momento por momento.

Os pensamentos são como cavalos selvagens num rodeio. Vão desde aquele maluco não deveria estar no banco até Sou uma pessoa horrível, sem nenhuma espiritualidade, pois aborreci o maluco do banco. Se você se identificar com esses pensamentos, não terá mais sossego.

A forma mais desencanada de conhecer um bando de cavalos selvagens é sentar na cerca e desfrutar do espetáculo. Com a mente não é diferente: o melhor sistema é simplesmente observar os pensamentos correndo livres, durante a meditação ou caminhando na rua. Não precisa acreditar neles ou tentar pará-los ou decidir que são a sua verdadeira natureza. Não são, da mesma forma que os cavalos selvagens também não são a sua verdadeira natureza. Observe a selvageria e a loucura, mas evite montá-los e cavalgá-los. Isto vale tanto para os pensamentos alegres como para os tristes. Tanto um devaneio agradável como uni ataque de pânico causado por pensamentos neuróticos, ambos nos afastam do nosso único momento vivo, que é este instante em que você está lendo o meu livro.

Mais uma vez, use a mente corno uma ferramenta para tarefas específicas. Quando acabar a tarefa, guarde-a novamente e desfrute o agora.


Autor: Arthur Jeon Fonte: Livro Calma no Caos – Os ensinamentos Budistas para Viver Melhor.

 
 
 

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